Coração E Bebida
O garçom não sabia o porque
de tantas doses distribuídas sobre a mesa
ela também não...
nem eu
que uma após outra
outra após uma
não via o tempo passar
a música tocar
a conversa fluir
nem eu me afogar
entre um minuto e outro
me dei conta que eu era o centro do mundo
e que o mundo rodava em torno de mim
e ela não aparecia...
uma mistura de riso descontrolado
tristeza sorrateira
e saudade afogada
tomou conta de mim
e nada da presença dela...
e ninguém mais passou pela minha cabeça
a não ser chamar minha mãe
naquele momento
a segunda mulher
que eu mais gostaria que estivesse perto de mim
porque a primeira
tão lembrada durante aquela viagem alcoólica
não merecia mais nem a minha atenção
afinal
uma viagem tão longa
entre a sobriedade e a embriagues
e nem sinal da sombra dela
ou dos olhos
da boca
das mãos
os poetas investem seus recursos palavrórios
para pintarem corações partidos
e onde estão os poemas
dos corações recompostos
reconstituídos
renascidos dos cacos?
Suave glicose
que nas entranhas das minhas veias
circulam me trazendo novamente a sobriedade
a consciência e a certeza
de que eu estou pronto para catar
os cacos do meu coração despedaçado
e no caminho de remontagem
fica uma lembrança suave
perdida nos escombros da memória
ela não veio e não virá mais...
parto então
para o quebra-cabeça
de juntar cada pedacinho do meu órgão muscular
meu território de sentimentos
minha ilha particular
de estranhas manias de amar...
Catalão, 15-04-2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário