quinta-feira, 31 de julho de 2008

O Homem De Terno

A sua insignia era incontestavelmente o seu terno
e esta história não é fácil de ser contada,
apesar de toda necessidade aparente

O fato mais do que óbvio é que
o homem de terno não tem passado

dizer que ele não tinha um passado
pode ser consedirado exagero interpretativo
pois algumas pistas sempre aparecem
e o óbvio acaba não sendo tão claro assim

mas como contar a história deste homem?

talvez falando do seu terno
o que na verdade, não tem muito sobre o que dizer:
preto, sem listas, classic
e era de tal forma imponente
que quem sabe por acidente
fazia do seu dono
uma personagem cinzenta
com esta inebriante vestimenta

contam as linguas que o homem de terno
no início, não tinha terno
mas quem acredita
nestas palavras que ora se digita
que o homem de terno
um dia não tinha terno?

mas a vida dá voltas
e estas histórias desconhecidas
vez ou outra, aborrecidas,
tendem a fazer do homem a roupa
e da roupa, o homem

mas aquele homem de terno
não era nada disso
apesar da aparência insolente
da frieza do olhar independente
e dos gestos calculados,
ela era bem amado

fora sonhador de grandes fortunas
mas perdeu tudo o que tinha
correndo atrás de uma oportunidade inoportuna
correndo atrás de dinheiro, fama e riqueza
mas que fora pego pela correnteza
das ondas da avareza

mas naquele exato momento
sinais de um acalento
fazia do homem de terno
um felizardo com menos aborrecimento

acabara de descobrir
que apesar do terno
usado no trabalho de motorista
ainda tinha vista
para explorar sua grande façanha

uma rara artimanha,
mesmo usando terno
para dirigir carros chiques
ele tinha um lema:
narrar suas histórias
em forma de poema

é por isto que aqueles que olham apressadamente
e vêem apenas a aparência
não conseguem enchargar
com inevitável evidência
que um homem de terno
pode não ser um burguês arrogante
mas um verdadeiro amante
da arte de fazer versos

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Um Poeta Que Nascia

A visão foi rápida
as luzes não contribuiram
ainda era quase noite
quando a última tecla foi tocada

magro, à primeira vista,
não alimentava, diziam, a alma de ninguém

mas, aos poucos foi se recuperando
ora atraía os olhos despersos
ora arrancava lágrimas de outros

e, mesmo sem visão de futuro,
o poema ocupou os espaços possíveis
da página quase morta
e construiu assim
uma obra monumental,
fundamental

uma verdadeira anatomia
do poeta que nascia

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Para A Sobrinha Vestida De Bahiana

Carolina,
uma das imagens que tenho de ti
é a menininha vestida de bahiana
um retrato na casa dos teus avós paternos
onde você, uma quase bacana,
sorri divertidamente

o sucesso do seu sorriso de antes
se confirma no sorriso de hoje,
aniversariante, brilhante

recentemente, a pouco tempo,
descobrimos, tio e sobrinha,
o orkut,
um do outro

como eu fiquei feliz
ao ver o que fiz
em aceitar/convidar
minha sobrinha
para ser minha amiga
nesta cantiga
de conhecimento virtual

quando eu acesso meu site
orkutando e navegando
vejo e atualizo
com fraterno suspiro
as tuas fotos compartilhas,
ilhadas,
misturadas,
a tantas fotos amigas

e assim,
vamos mantendo distâncias próximas
parentes, ausentes,
de um mundo que vivemos
e outro que construímos

Você e Nayran
na lida dominical
de brincadeiras infantis
febris,
pueris,
suave e angelical,
foi uma marca na nossa infância,
de pais e tios,
e na de vocês também

mas o tempo passa
e com ele vamos juntos
envelhecendo e sendo mais jovens

hoje, antecipando cumprimentos,
celebrando nosso novo ajundamento,
quero te desejar feliz aniversário

que o teu sorriso de criança,
agora jovem mulher,
que não há mais como esconder,
seja seu companheiro
ilumine o seu canteiro
de futuras experiências felizes,
que aqui este mineiro,
e um tanto quanto goiano,
deseja para ti.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Montanha

Montanha

Um cavaleiro subiu a montanha
Avistou a imensidão da planície

Quanta terra eu tenho para o meu deleite, imaginou

Ele esqueceu da distância que tinha
entre a planície e a montanha

Intransponível

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Superfície

Superfície

Vez ou outra
atenho-me a pensar sobre a profundidade
ou a superfície dos pensamentos

eu não sou muito profundo
quando se refere à arte de pensar

a profundeza do pensar
assim como a profundeza do rio, do mar
traz a pressão
o desequilíbrio
a suspensão

não que a profundeza do pensar
não seja importante
mas não me dou bem com esta prática
preferindo a superfície

mas, pensando bem
não tão profundo
minha história de vida
vem sendo delineada nas bordas
nas superfícies e margens experimentais

fiz tese, mas não aprofundei
toquei violão, sem ser violonista
dancei o samba, sem ser passista

e quanto ao amor?
Ah, o amor!

Alguns pensam que o amor verdadeiro
este que dizem existir por ai
está ou vem lá do fundo
de um mundo outro
dos amantes perfeitos

pois eu já penso
que o amor que invento
é mais amor,
quando, ao sabor do vento,
do tempo
dos amantes
flui pela superfície

o amor quando vai fundo
não é deste mundo
arrebenta
não há quem agüenta
acorrenta
parece uma velha rabugenta

é muita pressão
atormenta
desmaia
é uma verdadeira tocaia
ao sentimento

ninguém se sente bem
quando mergulha fundo
no amor
no trabalho
no submundo

amar na superfície
é tão bom
que não tem igual
que não tem rima perfeita
é natural

viver na superfície
não significa não mergulhar
não enxugar

viver na superfície
é um aprendizado
a todo bem amado

terça-feira, 22 de julho de 2008

O Dia Hoje Está Quieto

O Dia Hoje Está Quieto

O sol ardia lá fora
a casa estava vazia
quase assombrada

o barulho
que se ouvia
vinha dos pardais cantantes
e da mosca à procura de sopa

ele se levantou da cadeira
que fazia companhia à escrivaninha
foi ao banheiro
lavou as mãos
pegou o livro
sentou-se no sofá
sacou a caneta e papel
e como que por margia
escreveu estas palavras:
o dia hoje está quieto!

nascia ali
mais uma poesia

domingo, 20 de julho de 2008

Voce Invadiu Meu Coração

Voce invadiu meu coração

O dia era sol
A tarde era quase noite
Havia um feitiço no ar
O sol e a lua ameaçavam se encontrar
No meio do nada

E a sua boca apareceu num cumprimento de boa tarde
Apertei a sua mão

E você invadiu meu coração

Na hora
Algo estranho no céu
Que nem os astrônomos puderam explicar

Você invadiu meu coração

Morna, a noite, rejuvenesceu
O sol e a lua se viram

E você invadiu meu coração

Na história do tempo
Aquele dia ficou marcado no calendário dos astrônomos
Uma data inexplicável

Mas no mapa do amor
Foi o dia em que você invadiu meu coração.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

A Última Decisão

A Última Decisão

Foi rápido
como um tiro
quando tirou de si
a última decisão
e pôs fim à sua vida

nada era menos previsível
um salto da vida para a morte
um movimento indeclinável
uma ave de rapina
em pleno vôo
à procura de sua caça

as palavras não encontram sentido
quando convocadas a pronunciar-se frente à tragédia
da vida à morte
como uma última decisão

e assim ela se foi
como um animal
sem ritual
deixando a paixão no chão
morta, no passado
como sua última decisão

Fome De Mar

Fome de mar

Meu bem está por perto
Maquiando a pele
Maquiando a vida
O futuro

Fico sonhando com serpentes
Rondando Milton
Mercedes
Pareço um zumbi
Pulo aqui
Pulo ali

Enveredo nos msn
Vejo um
Falo com outro
Chego ao estômogo
E planto um verso
Como a música

O olhar fundo
Vê o batuque
Sente a cor
Cheira sentimentos

Seguindo o teclado
Sento-me aqui
E escrevo
Perseguindo a fome
Do mar

“O mar é de quem o sabe amar...”

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Vingança

Vingança

Uma textura
Um teste
De um sentimento
Inacabado

Um teste
De um sentimento
Inacabado

Um sentimento
Inacabado

Inacabado

terça-feira, 15 de julho de 2008

O Pescoço

O Pescoço


Detive-me frente àquela monumental visão:
a mulher
que entre os olhares masculinos
era mirada como um avião
tinha algo que a diferenciava das outras

era alta, magra, esbelta
tal qual modelos
mas diferente

e o que destacava era o seu pescoço
coberto com uma pequena gargantilha de couro

não era um pescoço qualquer
fazia da distância entre a cabeça e o corpo
uma aventura sensual

arredondado
esculpido
tinha detalhes de Rodin

e a mulher
proprietária daquela obra prima humana
tinha consciência do seu membro

e sabia coordenar o balando do seu corpo
com o equilíbrio do pescoço

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Catarse Poética

Catarse Poética


O Blog paravocepaixão.blogspot.com
nasceu de uma vontade ímpar
de colonizar um espaço
com poemas catárticos
que pudessem ser
uma mistura de purgação
vibração, exploração
e evocação de um outro eu
sendo eu mesmo

você paixão
não é ela
não é você
não sou eu
somos nós
sujeitos objetos
de inspirações
e escritas

a catarse poética está justamente neste foco:
escrever para registrar
evocar
subjugar
subverter
transgredir o silêncio dos sentimentos
agredir a falta de audácia
de não expor
expondo-se sem apetites finos
nem privilégios

escrever poemas
é algo que descubro em mim
e naqueles que lêem e comentam
as escritas que vez ou outra
desvelam-se de seus esconderijos

Para você paixão
é uma tinta arremessada na direção do papel
são os dedos que ora digitam o teclado
e na planice do papel
do monitor
vão transfigurando
os eus meus de cada dia

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Sem Palavras

Sem Palavras

há momentos assim
em que as palavras
não têm abas
não tem flor
não tem som
não significam nada
são substituíveis
pelo silêncio da dor

tenta aqui
tenta ali
mas não tem como chegar em ti
assim como uma montanha de gelo polar
teu corpo, teus olhos
não deixam a rima rolar

terça-feira, 8 de julho de 2008

Para Que Serve Um Amor Vivido No Passado?

Para Que Serve Um Amor Vivido No Passado?

Esta é uma pergunta
que vez ou outra me assunta
e que sempre não temos resposta

mas se há realmente algo a responder
sobre os amores do passado
eu digo com prazer:

todo amor que voce viveu
mesmo que tenha cido incoerente
serve para reinventar
o amor presente

segunda-feira, 7 de julho de 2008

O Apito Do Carro De Polícia

O Apito Do Carro De Polícia

Estava eu na minha caminhada quase noturna
quando percebi que vinha em minha direção
um carro de polícia lentamente

ao redor da represa
neste horário de fim de dia
e início de noite
várias pessoas circulam as águas
procurando boa performance
perfilar o corpo
ou buscar resistência física

e no meio daquela pequena multidão interiorana
tomei um grande susto
quando o apito do carro da polícia
barulhou os meus ouvidos
quase me lançando ao chão

não se tratava de nenhuma desordem aparente
mas sim uma bela morena
do outro lado da calçada
sendo instigada a lançar seu olhar
na direção do apito familiar

e assim, diante o sol poente
o barulho que assustou a minha mente
serviu de recurso ao pobre policial
para chamar a atenção
da morena contente
que do outro lado da ponte
caminhava suavemente
como toda aquela gente
com seu sorriso e andar eloquente

O Amor Entra Em Cena

O Amor Entra Em Cena

E de repente a cortina cai
as luzes se apagam
e o coração dispara:
"achei o amor da minha vida"
agita o amante, a amante

e no início é só aplausos
risos salpicando aqui e acolá
a felicidade é tanta
que nem se aguentam dentro de si

logo após os primeiros movimentos
beijos, abraços, pulos desconexos
lençóis amaçados
corpos ardentes
febre viril
aparecem as primeiras interrogações

Por quê existem os porquês?
principalmente quando se trata de amor
os que amam vêem sempre além
a mais do que os que os rodeiam
e enchergam menos do que o normal

mas o amor justifica tudo, não é?
não é não
depende da fase, do estado de esperíto, da satisfação

o amor traz sempre consigo uma terceira entidade
um oposto de si
um espelho sarcástico
unha e carne um do outro
e que revelam no ser humano
a simultaneidade de suas contradições

e a razão, esta amiga da paixão
quando toma conta do sujeito
traz mil indagações:
por que amar tal pessoa?
por que não ser amado por tal pessoa?
por que tal pessoa não me amar como eu gostaria?

ora vilã, ora reveledora de verdades
esta Deusa do ocidente
tematiza aquilo que o sujeito amante menos gosta: o porquê do amor
ou o porquê do não amor

mistério indecente
transgressor
pois quando bem alimentada
esta Deusa desconcertante
revela ao indivíduo o que ele mais teme:
ele mesmo

chegar ao final do espetáculo
amando, amante, amado, amada
traduz-se com a arte do silêncio
da reflexão
do olhar atento no cenário estonteante
buscando nos mínimos detalhes das cenas no palco
significados especiais
que possam dar sentido
ao amor que cada um cria para si e para o outro

domingo, 6 de julho de 2008

Vento Enfurecido

Vento Enfurecido

O vento começou na madrugada
a janela bramia no escuro
dando nauseas aos dormentes

e assim continuou até o nascer do dia
e com o sol postado no alto cerrado
o vento vinha e ia
mais veloz do que sempre
com pressa de chegar e de ir embora
balançando as árvores para cá e para lá

de onde vinha?
para onde ia com tanta ligeireza?

Sei lá
diria o peão
que com o pito na boca
e a faca na mão
lança o olhar para o céu
como se buscasse resposta

ninguém sabe
esta é a verdade
o fato é que está mais presente nesta época do ano
mas não fica totalmente ausente em outras épocas

talvez esta sua maior presença
neste espaço de tempo em que estamos
seja fato inédito
do seu aniversário
ou alguma comemoração
onde a ventania faz festa

o fato é que em julho, agosto
sentimos de forma mais estonteante
a ventana na pele
levantando pueira de sonhos
na friagem arredia da alma

sábado, 5 de julho de 2008

Com A Boca De Feijão

Com A Boca De Feijão
Eu não
eu não

mas não adianta negar
depois que passou pelo altar

o cotidiano
vai ano, passa ano
pode ser tudo igual

mas com imaginação
na cama, na sala, no quintal
à luz de velas
à luz da lua
ou do sol

o que importa
é onde a fantasia
que contradiz ao que voce dizia

e imprime um novo som
uma nova pintura
na paisagem borrada
do dia a dia
do arroz com feijão


Cotidiano - chico buarque

Passo A Passo

Passo A Passo
caminhando à beira do lago
vou descobrindo os lados
de uma paixão peregrina

sentimentos que deixam rastro
de histórias
de desejos
aventuras

e no passo a passo
no meio de outros rastros
a luz do dia vai se apagando
dando lugar aos refletores
da alma noturna

corpos indo e vindo
em busca de caminhos outros

nesta patuscada andante
a lua vai se aproximando
iluminando o olhar
de um coração apaixonado

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Um Poema Correu Na Frente

Um Poema Correu Na Frente

Eu queria fazer um samba
mas um poema correu na frente
e veio sentar nas pontas do meu dedo

tão logo ele marcou presença
fez do samba uma ausência
e encantou o triste passageiro
que na esquina temperamental
trazia na face a cor da tristeza

E o poema é assim
corre ligeiro
dança aqui e acolá
irreverente
consegue convidar o samba
para subir no palco e sapatear

e sem ser competitivo
lança seu olhar generoso
para a arte de amar

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Ultraje

Ultraje


Nada é mais ultrajante
do que um corpo sem amante

quando não se ama a pele
as unhas
os pés
o joelho
o pescoço
a nuca
os cabelos
e as costas

a alma sente vazia
o seu alcance é miúdo

um corpo sem amor
é uma alma sem conteúdo

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Amor Ciberpunk

Amor Ciberpunk

Toco como experimentação
na tua carne em relevo
na sua boca de beijo frio
e no teu olhar gélido

faço isto por conta própria
e na exata conta do seu desejo
atraindo a sua tensão
e mergulhando no prazer
que melhor exprime nossa relação

e não ligo para quem liga
se amor é assim ou assado
ligo para o que liga
o meu desejo
ao meu bem amado

terça-feira, 1 de julho de 2008

Sapoti E Pimentinha: Duas Interpretações Sentimentais

Sapoti E Pimentinha: Duas Interpretações Sentimentais

Duas divas da música brasileira
num encontro memorável
colocam a interpretação
o sentimento
à flor da pele

Sapoti e Pimentinha
duas vozes
duas versões
sobre o sentimento de cantar


Angela Maria e Elis Regina

Ler A Alma Do Outro

Ler A Alma Do Outro
requerer um olhar despretensioso
carinhoso
livre de exageros e julgamentos
pois o que mais vemos
quando direcionamos nossas lentes
é o que sentimos
e não o que o outro sente